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O apagão do Censo e produção de pesquisas nacional


Foto: Scott Graham no Unsplash


Nos artigos anteriores, falamos sobre o caráter político da decisão que novamente inviabiliza o Censo (primeiro em 2020, agora em 2021) e das consequências da não realização do estudo para o mercado. Neste artigo, vamos tratar das consequências para a produção de conhecimento nacional. Todos os demais estudos e pesquisas desenvolvidos no país (nas universidades, nos centros de pesquisa e tecnologia, nos institutos de pesquisa, nas empresas e etc) se baseiam nos dados fornecidos pelo IBGE. Em uma analogia, é como se o IBGE fosse o tronco de uma árvore, que dá bases (de dados) consistentes para que, cada um, possa desenvolver seu próprio galho.

Todos os demais estudos e pesquisas desenvolvidos no país (nas universidades, nos centros de pesquisa e tecnologia, nos institutos de pesquisa, nas empresas e etc) se baseiam nos dados fornecidos pelo IBGE. Em uma analogia, é como se o IBGE fosse o tronco de uma árvore, que dá bases (de dados) consistentes para que, cada um, possa desenvolver seu próprio galho.

Tomando essa analogia por referência, podemos pensar em uma das etapas mais básicas da construção de um projeto de pesquisa: a definição da amostra do estudo. Qualquer estudo, para ter uma relevância a ponto de representar uma população (seja ela de uma comunidade, um município ou o país inteiro), precisa de um número de participantes específico que é obtido através de um cálculo (chamado cálculo amostral), no qual um dos fatores é o universo. E o que seria o universo em uma pesquisa? É um grupo de pessoas que tem determinada(s) característica(s) em comum que interessam ao estudo, de modo que podem ser pensadas enquanto um grupo a ser examinado nesse estudo. Ou seja, se vamos estudar os efeitos e as consequências do isolamento social nas práticas de consumo de idosos no Rio de Janeiro, nosso universo são os moradores do Rio de Janeiro com mais de 60 anos. Tendo em mãos o número total aproximado deste público, chega-se até a amostra da pesquisa através de um cálculo amostral e da definição de parâmetros (como margem de erro e nível de confiabilidade dos resultados). Pois bem, como saber então o total de moradores com mais de 60 anos no Rio de Janeiro? Através do Censo. Ainda dentro deste mesmo exemplo, podemos usar outras informações do Censo para complementar o estudo como: grau de empregabilidade do grupo, renda familiar e individual mensal, estrutura familiar do grupo, acesso à internet e etc.

Tomemos como outro exemplo a FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), uma organização privada, sem fins lucrativos, que analisa fenômenos econômicos e sociais "com o propósito de contribuir [entre outros] para: o debate dos problemas econômicos e sociais do Brasil e a expansão do conhecimento econômico; o desenho de contratos públicos e privados mais eficientes; a produção de conhecimento, dados e soluções de alto valor agregado; o crescimento econômico, o fortalecimento do sistema produtivo, o aumento da competitividade do País, a melhor distribuição da renda e a eliminação da pobreza...". Pois bem, a FIPE gera diversos relatórios e estudos sobre os diversos setores econômicos (Agricultura, Indústria, Saúde, Turismo…), tanto para entes públicos como para privados. E o IBGE, como fonte de dados, está sempre lá, fundamentando a maioria dos trabalhos. Portanto, a geração de informações realizada pelo censo nacional e as demais pesquisas do IBGE dão subsídio para centenas (senão milhares) de outros estudos que contribuem para o desenvolvimento da sociedade. Cortar essa fonte essencial de dados é promover um desmonte em cascata do desenvolvimento de conhecimento no país (algo que, não coincidentemente, parece ser justamente o objetivo do governo atual).

Diante da pandemia causada pelo coronavírus, como será possível medir os impactos demográficos, sociais e econômicos sem as informações unificadas sobre a população do país?

O momento em que vivemos reforça a importância de ter dados atualizados da população. Diante da pandemia causada pelo coronavírus, como será possível medir os impactos demográficos, sociais e econômicos sem as informações unificadas sobre a população do país? A decisão do STF que obriga que o governo federal adote medidas necessárias que garantam a realização do estudo nacional trouxe certo alívio com relação ao grande imbróglio orçamentário e a realização do Censo. Nos resta agora ficar de olho no desenrolar desta história, especialmente no cenário de ano de eleição que se aproxima. No entanto, é impossível não se questionar (e se inquietar!) sobre as consequências para o Brasil pelo atraso na realização do estudo.


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